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Por Moacir Beggo, site: www.franciscanos.org.br

A catedral da Sé lotou neste sábado (27/11) para homenagear Dom Paulo Evaristo Arns pelos 65 anos de vida sacerdotal. Numa celebração que durou 2 horas, presidida pelo Cardeal de São Paulo, D. Odilo Pedro Scherer, e concelebrada por 25 bispos, entre eles os franciscanos desta Província, Dom Caetano Ferrari, de Bauru; Dom Bernardo Bahlmann, de Óbidos; Dom Leonardo Steiner, São Félix do Araguaia; e D. Fernando Figueiredo, de Santo Amaro. Uma procissão de cerca de 200 padres, entre eles os frades desta Província e o Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, tomaram metade da ala direita dos bancos da catedral. Logo depois da Missa, Dom Paulo foi até o Convento São Francisco, no Largo São Francisco, para se confraternizar com os seus irmãos de caminhada na Ordem Franciscana.

No início da celebração, o bispo auxiliar e vigário-geral da Arquidiocese, Dom Tomé da Silva, leu a mensagem do Papa Bento 16 a Dom Paulo, ressaltando que de "bom grado associo-me em espírito ao Te Deum pelo sexagésimo quinto aniversário da sua Ordenação Sacerdotal".

Dom Odilo fez a sua homenagem antes do Ato Penitencial e destacou a importância deste momento para a Arquidiocese de São Paulo. "Quero expressar a alegria de toda a nossa Arquidiocese pelo dom de sua vida", disse D. Odilo, observando que ele é um estímulo para os fiéis e padres. O Cardeal de São Paulo deu como presente para o jubilando uma miniatura da imagem de São Paulo que está na praça da Sé. Também recordou que ele tem o mesmo nome do apóstolo, da cidade e da Arquidiocese que pastoreou por cerca de 30 anos.

Dom Paulo agradeceu o presente e a população que lotou a Catedral para homenageá-lo. "Deus lhes pague por terem vindo!", disse D. Paulo. "Agora permitam que lembre apenas algumas coisinhas, porque São Francisco de Assis dizia que o sermão deve ser breve. E brincou: "E quando era arcebispo por 28 anos em São Paulo, o cerimoniário se levantava aos 7 minutos e tinha que dizer 'Amém'. Quando não eu não reparava, aos dez minutos de liturgia eu dizia 'amém, amém, amém para o bem'."  "Como se passaram esses 65 anos?", perguntou D. Paulo. "Vinte anos como franciscano, de 45 a 66, sempre dedicado à própria formação e à formação de futuros padres. Só dez anos tive o prazer de andar pelos morros de Petrópolis e amar os operários que eu amo até hoje com o amor de São José Operário", explicou. Depois, como bispo em São Paulo, sempre teve o apoio dos padres, religiosos e leigos.

Dom Paulo recordou São Clemente citando três coisas para o exercício presbiteral: sempre levar Bíblia às pessoas; cuidar bem da liturgia, que apresenta as oferendas a Deus; e conduzir os cristãos para a verdadeira meta, que é o encontro com Cristo, com o irmão, com o amor que não acaba. A cada citação, perguntava para os fiéis: "São Clemente estava certo ou não?". "Ah, então estamos de acordo", respondia, sempre aplaudido entusiasticamente. Depois perguntou se o povo queria saber como ele passa o dia aos 89 anos de idade.

"De manhã cedo, ou como diz a Ir. Terezinha que está aqui, celebro a missa para a pequena comunidade de três irmãs", disse, referindo à Comunidade das Franciscanas da Ação Pastoral, que cuidam de D. Paulo não residência de Taboão da Serra. "Eu não tenho mais televisão, não ouço rádio, mas leio dois jornais por dia", contou, exibindo muita saúde aos 89 anos.

Homilia de D. Celso
Dom Antônio Celso Queiroz, bispo mérito de Catanduva (SP) e auxiliar da Arquidiocese no período de Dom Paulo, fez a homilia. "Olhando para D. Paulo, não posso deixar de aplicar para ti as palavras de Pedro a Jesus. Na realidade, também o sr., Dom Paulo, foi ungido pelo Espírito Santo, fazendo o bem por onde passou. Desde os morros de Petrópolis, passando pelas salas de aula, depois como bispo da região Santana e, enfim, em toda a Arquidiocese".

D. Celso lembrou que neste final de semana começava um novo tempo na liturgia com o Advento. "O Advento é tempo da gestação do novo", disse. "D. Paulo, o sr. está entre nós ajudando exatamente a viver o que o seu lema expressa - "De esperança em esperança". Tantos, como eu, lhe devemos particularmente isso: a descoberta da força da esperança. Sem ela, a fé é fraca, a caridade logo se cansa e desanima".

E prosseguiu: "Quem de nós, dos que estão aqui presentes, e dos que não estão, não perceberam um dia sua paterna mão sobre o ombro enquanto ouvia de sua boca: coragem, anime-se! Isso experimentávamos nós, bispos, padres, nossos irmãos das favelas, dos cárceres do Carandiru, da penitenciária do Estado, dos pobres. Alguém me dizia ainda hoje que o sr. foi bispo de São Paulo para animar a todos, mesmo os que não pertenciam à Igreja", ressaltou D. Celso.

O bispo emérito de Catanduva disse que "agradecemos a Deus por termos a graça de estar entre nós, pelo seu testemunho de fé, pelo serviço aos pobres, sofrendo as consequências disso. Há 65 anos, o sr. passa entre nós fazendo o bem, testemunhando a esperança".

Na procissão das ofertas, Frei Odorico Decker, irmão religioso desta Província, carregou um círio que foi entregue a D. Paulo.

Mais homenagens
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o leigo Francisco Whitaker e o Pe. Tarcísio Marques Mesquita foram escolhidos para homenagear D. Paulo no final da celebração.

O prefeito cumprimentou todas as autoridades e saudou os familiares de D. Paulo, especialmente, o senador Flávio Arns. "É uma satisfação muito grande estar aqui hoje, na condição de representante da população de São Paulo, procurando expressar o sentimento de 11 milhões de pessoas que moram em São Paulo, mas tenho certeza que este sentimento não é diferente dos milhões de brasileiros que moram também fora de São Paulo. Um sentimento de muito carinho, de gratidão, um sentimento de muito reconhecimento por sua luta por um Brasil melhor, mais justo. Quem pode esquecer a sua luta contra as desigualdades? A sua luta em favor democracia, a sua luta pregando as liberdades, a sua luta em favor dos pobres, junto aos presidiários, a sua luta que valeu a pena. Porque, graças a pessoas como o sr, nós temos hoje um Brasil melhor".

Já o leigo Francisco Whitaker, que iniciou com Dom Paulo a Pastoral de Fé e Política da Arquidiocese, falou em nome dos leigos e destacou a nova Igreja que nasceu do Concílio Vaticano II e a luta do jubilando em favor dos direitos humanos. "Quando eu a Estela (esposa), estávamos exilados no exterior, viamos o sr. se destacando entre os bispos que se opunham ao regime militar, por sua extrema coragem, especialmente contra a tortura dos que aqui resistiam", disse, recordando o livro de D. Paulo "Tortura Nunca Mais". Os fiéis o aplaudiram muito. "Fiel ao Concílio, o sr. animou diferentes pastorais e chamou leigos para compor a Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz", acrescentou..

E completou: "Por esse trabalho que tanto nos enriqueceu, nunca agradeceremos suficientemente", disse, lembrando que não dava ali para dizer tudo o que testemunhou na arquidiocese. "Só lembraria de uma entrevista sua, D. Paulo, no lançamento da Campanha da Fraternidade de 96, aqui nesta Catedral. A campanha era sobre 'Fraternidade e Política'. O sr. disse, então, aos jornalistas que estranharam essa clara entrada da Igreja na seara política. Uma frase que não canso de repetir até hoje: 'não fazer política é a pior forma de fazer política'".

Padre Tarcisio Marques Mesquita, ordenado sacerdote por D. Paulo, fez uma homenagem emocionada. "Dom Paulo não temeu sequestros e roubos na rua de sua casa. "Fostes teimosamente sacerdote. E porque sacerdote, pastor de um povo sofrido nas milhares de comunidades que surgiram pelo teu incentivo. Se organizaram e sempre te amaram, como tu insistentemente os ensinastes. Fizeram-se Igreja e viveram como Igreja com o vigor do teu sacerdócio. Para nossa alegria, tu aqui estás, celebrando os 65 anos de sacerdócio", disse.

Outras homenagens vieram das crianças do Abrigo Dom Luciano Mendes de Almeida, da Pastoral do Menor da Arquidiocese, que entregaram flores a Dom Paulo, e dos moradores de rua, que ofereceram a D. Paulo um bolo de aniversário, enquanto se cantou "Parabéns a você". No final, o jubilando deu a bênção final.

O vice-presidente da República José de Alencar escreveu uma carta manifestando a vontade de estar na celebração, mas devido a uma cirurgia não pôde.

No Convento São Francisco
D. Paulo foi homenageado pelos frades da Província da Imaculada Conceição no Convento São Francisco, onde o guardião Frei Salésio Hillesheim distribuiu o livro de D. Paulo "Da esperança à utopia".

O Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel falou em nome dos frades: "Fizemos uma pequena recepção para agradecer a Deus também pelo frade que o sr. sempre foi nestes 65 anos de sacerdócio e também agradecer pelo testemunho a todos nós. Essa casa sempre foi uma casa referencial. A gente sabe quantas vezes o sr. recorreu a esta casa e encontrou apoio dos frades e os frades encontraram apoio no sr. Obrigado pelo seu testemunho", agradeceu. Cansado pela longa celebração, D. Paulo se recolheu cedo no convento.

Veja a cobertura completa na edição de 30/11 do jornal O SÃO PAULO

Conheça o site em homenagem ao cardeal dom Paulo Evaristo Arns


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