Dom José Antônio Peruzzo
Bispo de Palmas e Francisco Beltrão
Presidente do Conselho Diretor da Pastoral da Pessoa Idosa,

Guardo no meu coração tua Palavra, para não te ofender.É esse o versículo 11 do Salmo 118(119), o maior salmo da Bíblia, todo ele um grande e bonito poema de elogio à Palavra de Deus. A nossa vida, do começo ao fim, deve ser sempre iluminada e orientada pela Bíblia Sagrada. Neste mês de setembro, dedicado à conscientização sobre o valor da Sagrada Escritura em nossa vida cristã, é uma boa idéia ler e meditar cada versículo do referido Salmo.

A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar toma da mesa tanto da Palavra quanto do Corpo de Cristo o pão da vida, e o distribui aos fiéis... Nos livros sagrados, com efeito, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala. Essas palavras da Constituição Dogmática Dei Verbum, n. 21, mostram como são grandes o poder e a eficácia que se encerram na Palavra de Deus. Ela é sustentáculo e vigor para a Igreja, firmeza da fé, alimento da alma e fonte da vida espiritual.

Cesário, Bispo de Arles (470-543), escreveu: Irmãos, na opinião de vocês, tem mais valor a Palavra de Deus ou o Corpo de Cristo? Se quiserem dar a verdadeira resposta, certamente deverão dizer que a Palavra de Deus não vale menos que o Corpo de Cristo. Todo o cuidado que tomamos quando nos é dado o Corpo de Cristo, para que nenhuma parte escape de nossas mãos e caia por terra, tomemos este mesmo cuidado, para que a Palavra de Deus que nos é entregue, não morra em nosso coração, pois aquela pessoa que escuta de maneira negligente a Palavra de Deus, não será menos culpada do que aquela que, por negligência, permitir que caia por terra o Corpo de Cristo (Sermão 78, 2).

Santo Ambrósio dizia: A Deus falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos a Bíblia Sagrada.Ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo: palavras de São Jerônimo, tradutor da Bíblia para a língua latina, cuja memória celebramos no dia 30 de setembro.

Ouvir, guardar no coração e pôr em prática a Palavra foi o caminho sugerido por Moisés ao povo de Israel, para nela obter vida e salvação (Dt 4, 1-8). Foi esse também o caminho vivido por Maria, serva da Palavra que se fez carne. A respeito de Maria, duas vezes nos diz São Lucas: guardava no seu coração a Palavra do seu Filho e a meditava sem cessar (Lc 2, 19.51). Por essa razão, Maria tem todo o direito de exortar-nos a fazer tudo o que o seu Filho nos manda, como o fez naquele casamento em Caná da Galiléia (Jo 2, 5).

Aceitem com humildade a Palavra que Deus planta no coração de vocês, a qual pode salvá-los. Não sejam apenas ouvintes dessa Palavra, mas a ponham em prática (Tg 1,21-22). Se Deus nos fala, não podemos deixar de acolher a sua Palavra. A Bíblia repete nada menos que 1153 vezes o convite a escutar Deus. Essa escuta, porém, atua mais no coração do que nos ouvidos. Significa aderir totalmente, obedecer, adequar-se àquilo que Deus fala.

Feliz aquele que escuta a Palavra e a observa. Dessa forma, o discípulo torna-se como um parente íntimo do Senhor. O bom ouvinte da Palavra é aquele que a pratica, dando solidez à sua vida como a uma casa construída sobre a rocha (Lc 11,28; 8, 20-21; Mt 21, 28-30; 7, 24).

A Palavra de Deus é um dom precioso, que vem do alto, do Pai das Luzes. Quando encontra em nossos corações uma terra boa, dócil e generosa, ela nos recria constantemente, e aos poucos nos vai revestindo das palavras e dos gestos de Cristo. Não seremos mais nós a viver: Cristo se formará em nós. Seremos transformados pelo Evangelho e o transbordaremos sobre os outros.

* Bispo de Palmas e Francisco Beltrão
Presidente do Conselho Diretor da Pastoral da Pessoa Idosa