Entrevista Dr. José Luiz Telles

CONVERSANDO SOBRE ENVELHECIMENTO COM O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DO IDOSO (CNDI), DR. JOSÉ LUIZ TELLES  

DR. TELLES: UMA VOZ QUE MERECE SER OUVIDA

  Algumas informações sobre o nosso entrevistado:

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Dr. Telles é médico, pesquisador titular da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), professor universitário da Universidade Católica de Brasília (UCB) e presidente do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI) na gestão 2008-2010. Tem contribuído para a formulação de políticas públicas sobre idosos, no Ministério da Saúde. Colaborado para a produção do conhecimento sobre o envelhecimento na FIOCRUZ na conceituada universidadeUCB FIOCRUZ, entre outras instituições de ensino. Participa do Conselho Nacional de Direitos do Idoso (CNDI) faz alguns anos, mesmo antes dele ser nomeado Presidente do CNDI. Portanto, dr. Telles é uma voz que merece ser ouvida, pois tem muito a partilhar conosco.

PPI - Conte-nos um pouco sobre a sua história. O senhor é carioca, não é isso mesmo? Quais as lembranças que marcaram a sua infância, a sua adolescência? Conviveu com idosos em sua família?

DR. TELLES - Nasci na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1959. Não nasci sozinho, tenho um irmão gêmeo. As lembranças de infância estão fora do Rio de Janeiro. Passava minhas férias escolares na cidade de Cruzeiro-SP na casa de meus avós maternos. Foi minha avó quem me alfabetizou em casa e foi com eles que aprendi muito sobre a convivência com pessoas idosas.

 
PPI – Fale um pouco sobre a sua experiência como presidente do CNDI: ganhos e dificuldades encontradas nesta caminhada.
DR. TELLES - Primeiro há que se ter muito claro que o CNDI tem história muito recente. A gestão a qual estou presidente é a quarta e creio que nessa trajetória muito se avançou. É um desafio enorme o CNDI pautar os Ministérios e fazer com que as deliberações das Conferências Nacionais (realizamos duas – 2006 e 2009) sejam referência para as políticas setoriais. O que considero extremamente positivo nessa gestão foi o fato de estabelecermos um planejamento estratégico que, com certeza, deverá ser referência para a próxima gestão. Além disso, normatizamos a utilização dos recursos do Fundo Nacional do Idoso (Lei n° 12.213 de 20 de janeiro de 2010) e estabelecemos os critérios e as normas para a realização da 3ª Conferência Nacional da Pessoa Idosa que deverá ser realizada no segundo semestre de 2011. Enfim, estar a frente de um grupo de conselheiros compromissados e atuantes muito me honrou nesse período.

 

  PPI – O surgimento de legislações importantes, como a Política Nacional de Saúde, área na qual o senhor tem contribuído muito ao longo dos últimos anos, tem promovido o desenvolvimento de ações em favor dos idosos? DR. TELLES - Sem dúvida. Hoje temos ações estabelecidas em todo o território nacional o que vem incentivando cada vez mais gestores e profissionais de saúde a se dedicarem com maior atenção às questões próprias do envelhecimento. A própria população idosa tem percebido com mais intensidade que a atenção à sua saúde é um direito de cidadania e, por conseguinte, vem participando mais dos fóruns de discussão. Temos muito à fazer, mas não podemos negar os avanços recentes que conquistamos não só na área da saúde como em várias políticas sociais.

PPI – A Caderna de Saúde da Pessoa Idosa é um instrumento importante para o atendimento preventivo e o planejamento de políticas públicas de saúde para os idosos, não é isso mesmo? Por favor, fale um pouco a este respeito. Dr. Telles, li em um jornal de grande circulação que quase 10 milhões de pessoas tinham sido cadastradas em 2008, é isso mesmo?
DR. TELLES - A Caderneta de saúde da Pessoa Idosa representou o primeiro passo para que os profissionais de saúde pudessem se instrumentalizar para melhor atender as pessoas idosas. Instituímos essa estratégia dentro do Pacto pela Vida no ano de 2006 onde gestores municipais, estaduais e federal se comprometeram em fazer da saúde da população idosa uma das prioridades do SUS. A partir da Caderneta, foi possível ampliar ações de qualificação da atenção em todos os níveis do sistema. O mais importante, contudo, foi o fato de hoje as pessoas idosas terem um instrumento que possibilite a elas acompanhar a sua própria saúde e, com isso, ter mais atenção àquelas situações que podem trazer risco á sua integridade física e mental.

PPI – A composição do CNDI é bastante interessante, pois participam representantes de ONGs, Ministério Público, Defensoria Pública, OAB, SESC, entidades técnico-científicas, do governo, inclusive a PPI que tem assento no Conselho, entre outros representantes. Há troca de experiências e partilha de conhecimento entre os parceiros do Conselho?
DR. TELLES - A participação no Conselho é uma atividade que qualifica os conselheiros na medida em que há de fato troca intensa de experiências e de saberes específicos. As discussões sobre determinadas situações é extremamente rica em função do perfil de cada conselheiro. O clima aberto e democrático instituído na nossa gestão foi um dos fatores para que essa troca pudesse se dar de maneira aberta e sem restrições.

PPI - O senhor observa mudanças na forma da sociedade, da família, dos gestores de políticas públicas tratarem as questões que dizem respeito aos idosos? Os idosos já são vistos como sujeitos de direitos, como cidadãos?
DR. TELLES - Sem dúvida alguma. A democracia é um dos principais pilares para que as pessoas entendam e se apropriem das políticas públicas e de seus espaços na sociedade. O Estatuto do Idoso é marco nesse processo, pois trouxe para toda a sociedade referência importante sobre os direitos específicos da população idosa. Hoje o Estatuto tem sido cada vez mais utilizado pelas pessoas idosas para fazer valer os seus direitos. Entretanto, precisamos divulgar mais o Estatuto não só para aquelas pessoas que já chegaram ou ultrapassaram a idade de 60 anos. A conscientização deve começar no ensino fundamental, com as crianças. Assim, será possível mirar o futuro com mais possibilidades de uma sociedade respeitosa com todas as gerações.

PPI - Na sua trajetória como pesquisador e professor universitário, o senhor tem observado avanços na produção do conhecimento sobre envelhecimento? É crescente o interesse dos alunos do curso de medicina no estudo do envelhecimento, uma vez que o número de geriatras no Brasil ainda é pequeno?
DR. TELLES - Creio que os cursos na área da saúde, não só os de medicina, ainda estão muito tímidos em incorporar os conteúdos específicos da velhice. Não é intenção formar especialistas desde o início da Faculdade. Mesmo que o jovem profissional de saúde recém-formado não queira abraçar a especialidade da geriatria ou da gerontologia, ele deveria sair da universidade preparado para lidar com as questões inerentes ao processo do envelhecer. Isso é importante para que tenhamos ações de prevenção de incapacidades e promoção do envelhecimento ativo.

PPI - Dr. Telles, muitos lideres e coordenadores da PPI participam de Conselhos de Direitos dos Idosos, nas suas regiões. O senhor gostaria de dizer algo para essas pessoas, a respeito da importância da participação social para concretização de direitos contemplados em leis como Estatuto do Idoso, entre outras?
DR. TELLES - Tive o imenso prazer e honra de conhecer algumas lideranças da PPI nessa minha jornada no Ministério da Saúde. O trabalho desenvolvido por essas lideranças é exemplar. Competência, dedicação e amor ao trabalho são marcas dessas pessoas. Portanto, a participação nos Conselhos só trará, como vem trazendo, maior riqueza para a atuação nos Conselhos de Direitos do Idosos.

PPI – Dr. Telles, No primeiro trimestre de 2010, aproximadamente 20 mil líderes da PPI acompanharam mais de 170 mil pessoas idosas em todo o Brasil. Essas pessoas estão sempre procurando possibilidades para atuar na vida do idoso, na família, na comunidade, conselhos de idosos, entre outros espaços. E quando encontram, transformam essas possibilidades em ação concreta, em algo que beneficie a vida dos idosos, principalmente, dos mais fragilizados, em razão de doenças, abandono e da pobreza. A Irmã Terezinha Tortelli é a coordenadora da PPI. Os senhores estiveram juntos em alguns momentos, no Conselho Nacional de Direitos do Idoso, não é isso mesmo? O senhor gostaria de dizer algumas palavras para Irmã Terezinha?
DR. TELLES - Irmã Terezinha é muito querida. Seu jeito simples e firme de ser foi o que mais me impressionou nos contatos que tive não só no colegiado do Conselho como também em algumas reuniões da PPI. A ela desejo que tenha muita saúde e determinação para continuar a obra de nossa querida dra. Zilda Arns à frente da PPI.

PPI - O senhor guarda alguma lembrança da pessoa, da atuação da dra. Zilda Arns?
DR. TELLES - São várias as lembranças e todas muito presentes em minha mente e coração. Desde que cheguei ao Ministério da Saúde, em 2005, tive a honra de conhecer a Dra. Zilda e poder compartilhar alguns momentos extremamente ricos para minha vida. A última vez que estive com ela foi em João Pessoa, exatamente no dia de seu aniversário em 2009. Ela coordenou uma mesa de debates e ao final acabamos por tomar o mesmo vôo de retorno à Brasília. Fecho os olhos e me vem a imagem de seu sorriso sincero e afetuoso. Agradeço a Deus por ter tido essa oportunidade.

PPI - Dr. Telles, o senhor gostaria de dizer alguma coisa, que eu deixei de lhe perguntar? Por favor, fique a vontade. A PPI agradece muitíssimo a sua entrevista. Um abraço fraterno, Áurea E Soares Barroso, e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
DR. TELLES - Gostaria de re-afirmar o compromisso do Ministério da Saúde em continuar apoiando as ações da PPI e desejar que Deus abençoe a todas e todos que dedicam parte de suas vidas para melhorar a vida de seus irmãos e irmãs.
Abraços fraternos
José Luiz Telles