Colhendo Flores entre Espinhos
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Colhendo Flores
entre
Espinhos
Ciência e atitudes
pessoais garantindo
um envelhecimento
com qualidade
Livro de Frei Antônio Morser e Ana Maria Moser
Entrevista de Frei Antônio Moser para Moacir Beggo - site dos franciscanos
Como se pode ver em todos os 25 livros publicados por Frei Antônio Moser, nem sempre a Teologia Moral, sua especialização, é o tema principal. Frei Moser não foge de nenhum tema, desde os mais simples aos mais polêmicos. Com o seu 26º livro, que acaba de lançar – "Colhendo Flores entre Espinhos – Ciência e atitudes pessoais garantindo um envelhecimento com qualidade", ele põe o dedo na ferida e lembra que não se deve ter "compaixão" das pessoas envelhecidas, mas, sim, olhá-las como pessoas que chegaram ao topo da montanha, de onde têm todo um horizonte descortinado.
Frei Moser falou ao Site Franciscanos sobre a nova publicação e o tema que a cada ano ganha mais atualidade num país que está com 21 milhões de pessoas acima dos 60 anos (segundo dados do IBGE).
Frei Moser, que se doutourou em Teologia, com especialização em Moral, na Academia Alfonsianum - Roma, além de diretor da Vozes, é professor de Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico Franciscano (ITF), em Petrópolis (RJ); é membro do Conselho Administrativo da Diocese de Petrópolis; pároco da Igreja de Santa Clara de Petrópolis; é membro da Comissão de Bioética da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil); coordenador do Comitê de Pesquisa em Ética da Universidade Católica de Petrópolis (UCP); coordenador do Projeto Educacional e Social Terra Santa, além de conferencista no Brasil e no exterior. Está de malas prontas para a Itália, onde vai falar para mais de 600 moralistas. Tem livros traduzidos para outras línguas (Teologia Moral impasses e alternativas; O enigma da esfinge, a sexualidade; Biotecnologia e Bioética: para onde vamos?; Ecologia: desafios éticos) e possui um programa semanal na Canção Nova, há 5 anos, tratando dos problemas que se encontram "em pauta".Nesta entrevista, além de falar sobre o livro e o tema da terceira idade, Frei Moser aborda temas polêmicos e atuais. Acompanhe!
Site Franciscanos - Diretor-presidente da Vozes, professor do ITF, pároco de Santa Clara, membro da Comissão de Bioética da CNBB, coordenador do Comitê de Pesquisa em Ética da UCP, conferencista, coordenador do projeto social Terra Santa e agora divulgando o novo livro. Ufa! Como o Sr. consegue conciliar tantas e todas essas atividades?
Frei Antônio Moser –Diria que é muito simples. Descobri que o sacerdote, o teólogo, o empresário não devem fazer nada sozinhos. Devem contar com pessoas certas para os lugares certos. Ou seja, você administra pessoas e não uma máquina. Por exemplo, construí uma paróquia e formei 16 comunidades de fé, sendo que algumas igrejas comportam de 300 a 400 pessoas. Então, como se faz? Montei esta paróquia e apareço lá uma vez ou outra durante a semana, além dos domingos, naturalmente. O padre bom é aquele que dá uma diretriz e deixa o povo trabalhar. Você deve ser uma espécie de ícone, referência, mas não é quem vai fazer tudo. Por exemplo, na Editora Vozes – cito ela porque trabalhamos lá - conseguimos montar uma equipe que funciona com ou sem a presença minha e do Frei Volney Berkenbrock. E muito bem. Agora, no Centro Educacional Terra Santa, o Sr. Reinaldo Cruz, e mais uma equipe administrativa me ajudaram a elaborar todo o projeto e agora vão tocando com ou sem a minha presença. No que se refere aos sócios, todos confrades, iremos fazer umas duas reuniões anuais. O segredo é não querer fazer tudo sozinho, mas encaminhar.
Site Franciscanos – Sobra tempo para escrever?
Frei Antônio Moser - Ora, vivemos o dia inteiro em meio a livros e textos. Com a prática, basta ver os títulos e um pouco dos capítulos. Com relação ao editorial, nos reunimos a cada quinze dias, discutimos e determinamos o que vai ou não ser publicado. Isso dá um lastro enorme. Para escrever um pequeno artigo para a Internet, basta sentar e em alguns minutos está tudo pronto. Para este livro (Colhendo flores entre espinhos) levei quatro meses para a elaboração, mas gastei muito tempo na gestação.
Site Franciscanos – Quem é a Ana Maria Moser?Frei Antônio Moser - Ana Maria é minha sobrinha. Tem 53 anos e é psicóloga, gerontóloga e fez a sua tese a partir de um abrigo de pessoas de idade em Rio Negro (PR). Ela pesquisou e compôs a tese. Aproveitei as idéias e fiz o esquema do livro. Em outras palavras, tinha todo o substrato científico. Ademais ela reviu toda a elaboração.
Site Franciscanos - Como nasceu este livro, o 26º em sua coleção?
Frei Antônio Moser - Comecei este livro falando dos grandes sonhos da humanidade, como ser eternamente jovem, ser feliz e imortal. A partir daí, quem é idoso no Brasil e como se deu a explosão demográfica, e agora a preocupação com o envelhecimento. Depois, a qualidade de vida. Adianta viver muito, mas sem qualidade de vida? A genética é um fator, mas há outros, como a alimentação, o exercício, a parte afetiva, relações humanas. Já no quinto capítulo comecei a fazer a abordagem de um ponto de vista físico, ou seja, os sinais do envelhecimento. Na realidade, os sinais podem ser equívocos, porque você não vê o principal. Quer dizer, como é que estão funcionando o seu coração, seus rins, seus pulmões e assim por diante? Mas o corpo fala, emite sinais. Hoje, a grande tentação é disfarçar a idade. Uns conseguem, outros repuxam tanto o rosto que nem conseguem rir. Depois, abordo o ponto de vista psicológico. Você começa a ser colocado de lado e vem alguém no seu lugar. Os meus alunos hoje são governo provincial, menos o Frei Estêvão (Ottenbreit). É uma situação interessante e que demonstra muito bem o que significa ser frade franciscano... Do ponto de vista psicológico, você tem que se acertar e não é fácil. Neste capítulo confronto perdas - você tem limitações - e ganhos. Por exemplo, nem eu e nem você poderíamos estar disputando a Copa do Mundo ou a São Silvestre. Cairíamos no ridículo. Agora, na medida em que se perde, ganha-se. Por exemplo, em termos de inteligência, de percepção, eu diria, em termos de um certo faro para saber o que vai e o que não vai dar certo.
Site Franciscanos – Ele é também reflexo da sociedade?
Frei Antônio Moser - No outro capítulo, falo do espelho social. Quem é você? Você é, sim, genética, família, a sua educação, sim, mas em grande parte é aquilo que disseram que você é e seria. Então, sofre-se um certo reflexo da sociedade. Eu me adapto, com maior ou menor intensidade, ao espelho que colocam na minha frente. Por isso, chamar alguém de "morto" ou de "burro" é um pecado. O sujeito diz: "Esse cara não serve para nada". Ele vai acabar se conformando e aceitando que não serve para nada. Por isso, sou contra o "Bolsa Família" na maneira como é administrada. Dar de comer a quem tem fome é um imperativo evangélico e humano. Mas manter alguém na miséria é um crime. Na sua última carta – Caritas in Veritate - o Papa Bento XVI diz com todas as letras que há um tipo de assistencialismo que humilha as pessoas e as nações. Proceder como se está procedendo é inculcar ainda mais no pobre que ele é um pobrezinho mesmo. Acho um crime. "Pega cachorrinho...!". Não, senhor! Você pode dar durante um certo tempo, mas ele precisa aprender a caminhar sozinho, defender-se. O orgulho da pessoa é saber que não é um inútil. O mesmo se deve observar com respeito à maneira como são tratadas as pessoas de idade. "No topo da montanha", para mim, é o melhor capítulo. Significa que, do alto da montanha, você vê o pôr-do-sol, mas você vê também o nascer da lua, das estrelas, os vales, os rios etc. Uma panorâmica que a criança, o adolescente, e o chamado adulto não têm. Você redimensiona, descobre talentos que você não imaginava ter. Como é que se faz? Tenho habilidades para umas coisas, mas para outras não tenho. Para escrever, dar uma aula, etc. Depois, no nono capítulo, abordo como lidar com o idoso e as casas de repouso. Na Europa Central as pessoas de idade vivem em verdadeiros hotéis. Não têm que se incomodar com netos, aturar desaforos de nora, genros. E passeiam pelo mundo afora, usufruindo do melhor. Aqui, no Brasil, inúmeras pessoas se encontram em petição de miséria. Mas há pessoas que se realizam nesses abrigos, porque conseguem desenvolver talentos que não conseguiam em casa. Por último, sem medo de morrer, condição de bem viver. Enquanto você tem medo de morrer, você não vive. Não precisa ter medo. Vá, em frente. Diz-se que algumas companhias aéreas numa crise teriam dispensado quase todos os pilotos acima de 45 anos? Mas trouxeram todos de volta. Por quê? Têm experiência. Essa história de que o computador resolve tudo, não é bem verdadeira... Algo de parecido se deveria dizer com respeito aos diagnósticos médicos... Faltam os denominados clínicos gerais.
Site Franciscanos - Como colher flores entre espinhos, levando-se em conta que o idoso ainda é muito desrespeitado nos seus direitos num país como o Brasil?
Frei Antônio Moser – Eu sempre gostei de flores. Lembro de minha mãe plantando boca-de-leão e roseiras no jardim. Não existem rosas sem espinhos. A vida sempre traz espinhos, em qualquer fase. Essa história de que a pessoa de idade tem mais espinhos, não é verdadeira. Ela pode sentir um certo número de espinhos a mais, mas também pode livrar-se de outros que sentia na carne em fases anteriores da vida. É preciso aprender a conjugar as perdas e os ganhos, valorizando ao máximo os seus ganhos. Você colhe flores entre espinhos sabendo valorizar talentos que estavam adormecidos e, ao mesmo tempo, precisa saber redimensionar uma dorzinha aqui, outra ali. Isso faz parte da vida. Um outro elemento do livro é a tônica positiva que procuro dar. Não se deve dizer "ah velho", não! Usei no livro um dado estatístico de 16 milhões de pessoas com mais de 60 anos, mas soube que está próximo dos 21 milhões. Fiquei balançado. Em todo caso, são muito numerosos. O potencial jogado fora nesse país em termos de não aproveitamento da força dos idosos é um crime. O país que não aproveita o potencial da terceira idade nunca vai ser um país equilibrado. Os senadores, os conselheiros deveriam ser pessoas que têm experiência. Muita gente critica o Papa porque é idoso. Acho que não. O Papa tem que ser essa pessoa de idade, que tem essa visão do topo da montanha. Eu sempre fui um sujeito otimista. Agora, no Brasil, é preciso fazer uma distinção. Mesmo as pessoas que teriam tudo para colher muitas flores, não o fazem. Porque elas cultivam espinhos em vez de cultivar rosas. Não sabem tirar proveito da situação. Ficam se preocupando com o que não deveriam mais se preocupar. Claro que em inúmeros casos a culpa deve ser atribuída à sociedade, que não oferece condições adequadas. Ademais, no Brasil, você tem muita gente de idade que são pobres, mas sabem apreciar as coisas simples. Nós vivemos de necessidades artificiais. Precisamos de um mínimo para viver. Problemas existem sempre. Mesmo na Europa tem pessoas de idade que sofrem discriminação, sofrem no sentido familiar. Às vezes, elas se refugiam nas casas de acolhida para esconder um drama familiar.
Site Franciscanos - O Sr. concorda que a mídia, na grande maioria, enfatizou nas últimas décadas características negativas do envelhecimento. Hoje, no entanto, já se valorizam os idosos como consumidores potenciais?
Frei Antônio Moser - Sem dúvida. Hoje mudou um pouco porque há estudos que apontam os idosos como consumidores potenciais. Não são só consumidores, mas chegam a manter famílias inteiras. Quantas avós mantêm netos vagabundos por aí? Quando avôs, com as suas aposentadorias, seguram famílias? Somos produtivos. Não é verdade que a terceira idade é um peso para a sociedade. Existe uma outra face, que aponta para o sentido contrário. Mas é preciso haver uma mudança de política, abrindo espaço para as pessoas que estão em plena forma, sem tirar a vez dos jovens. Ou seja, encontrar o lugar adequado para essas pessoas darem uma contribuição e, com isso, se realizarem. A mídia faz e desfaz. Acho que está mudando, mas ainda tem que mudar muito no sentido de aproveitar e valorizar a terceira idade. Veja: o ideal não é a eterna juventude, mas chegar a uma ditosa velhice. Como no Salmo 94, 14: Feliz o homem que colhe frutos até na velhice.
Site Franciscanos - É normal ter medo da morte?
Frei Antônio Moser - Minha sobrinha Ana Maria, co-autora, achou o capítulo sobre a morte o melhor do livro. Você vai ao encontro da luz, da plenitude, que nunca vai ter nesta terra. É a direção para novos horizontes que vão se abrir na eternidade. Hoje, realmente, não tenho medo da morte. Diria que o medo da morte é uma patologia que a sociedade alimenta e que, do ponto de vista cristão, nunca foi uma virtude ter medo da morte. É verdade que Jesus diz: "Pai, Pai, afasta de mim esse cálice!". Mas não era por medo da morte e, sim, o de não ter forças para cumprir a missão até o fim. Agora, veja, esse medo da morte não é cristão. Os mártires iam bravamente para arena, na perspectiva de fé. O mundo incute o medo da morte porque é materialista, não tem uma dimensão de transcendência. No fundo, apregoa ilusões como a riqueza, o poder. E diria também que é uma questão de tempo. Compreendo que um jovem normalmente tenha medo da morte, mas o bem jovem não tem. Até pelo contrário, se arrisca demais. Mas quando tem responsabilidades, filhos para criar, a perspectiva muda. Eu tive medo da morte até à morte de minha mãe. No dia em que ela morreu, acabou. Eu era filho único do segundo casamento. Tinha uma irmãzinha, mas morreu pequena. Suava com medo que minha mãe ficasse sozinha. No dia do enterro, acabou. Já não sinto mais suor nas mãos quando pego avião!
Site Franciscanos - O que a Igreja e a Teologia fazem para ajudar nesta cultura da vida, especialmente, do idoso?
Frei Antônio Moser - Existe muita coisa que está sendo feita. Por exemplo, em termos de vida religiosa, os religiosos sempre encontram um lugar, fazem atendimento, confissões, ou então, desenvolvem uma atividade que pode ser materialmente insignificante, mas é muito "produtiva" de um ponto de vista espiritual. Por exemplo, o Frei João Batista (de Petrópolis), o Frei Zeno (de Guaratinguetá), com quase 90 anos, são ativos. Acho que a Igreja deveria ajudar mais a vencer essa idéia de que a sociedade despreza quem não é produtivo. E nós deveríamos mostrar que o idoso pode ser produtivo, mesmo não produzindo financeiramente. Mas produtivo na sua maneira de ser, na tranquilidade. Nesse sentido, a teologia deveria mostrar a força de Deus atuando na fraqueza humana. Quer dizer, deveria revelar muito mais isso.
Site Franciscanos - Os avanços da biogenética e da biotecnologia podem ajudar o idoso no futuro a ter uma velhice mais tranquila?
Frei Antônio Moser - Até certo ponto, sim. Sem dúvida, não podemos desprezar os avanços da medicina, para minorar as dores, refazer o funcionamento, regenerar órgãos etc. Do ponto de vista de investimento no plano biológico há grandes progressos. Agora, do ponto de vista de sentido de vida, não. Sem o cultivo de todas as dimensões do humano, particularmente da espiritual e afetiva, não haverá vida verdadeiramente saudável. Biotecnologia sozinha representa pouca coisa em termos de qualidade de vida.
Site Franciscanos - A aprovacão das pesquisas com embriões prometiam milagres e curas a curto prazo. Não é bem isso que acontece?
Frei Antônio Moser - Um fracasso. Agora, isso foi reconhecido até pelos jornais, quando há pouco eram comemorados os dez anos do termo do projeto de Genoma Humano. Embrião não serve para terapia, porque tem DNA próprio, único original e sem repetição. As demais células, chamadas células adultas, sim, elas podem eventualmente ser orientadas para recompor um órgão que foi afetado. Até certo ponto. Penso que mesmo neste particular é preciso fugir das simplificações, pois os mecanismos da vida são múltiplos e complexos. Experiências com embriões, por enquanto são um fracasso. E podemos garantir que nunca oferecerão os resultados esperados.
Site Franciscanos - Em que sentido a Teologia Moral pode ajudar o ser humano a ter uma vida saudável, plena e feliz.
Frei Antônio Moser - Olha, o moralismo só prejudica. Moral significa abrir horizontes, despertar para os valores verdadeiros. Discernir o que realmente vale e o que realmente não vale. Então, nesse sentido, ela é fundamental. A Teologia Moral revela o caminho da vida. Este se encontra nos denominados mandamentos. Eu não gosto de falar de mandamentos. Prefiro falar em dez palavras de vida. Se amar realmente a Deus, então, você vai se humanizando, vai se sentido mais realizado até nos aparentes fracassos; amar o próximo, mesma coisa. Como diz Moisés, existe um caminho da vida e um da morte. O caminho da vida são essas dez palavras e o caminho da morte é a negação dessas dez palavras. Nesse sentido, a Moral, sem dúvida nenhuma, revela onde se encontram os sinalizadores do caminho da realização da vida.
JOGO RÁPIDO
PAPA BENTO 16
Surpreende agradavelmente, no sentido em que ninguém esperava tamanha tranquilidade. Diria mesmo, em termos teológicos, que há um clima de liberdade. Até hoje não houve nenhuma intervenção. É mais que professor, um mestre da fé. Acho que está cumprindo o seu papel. Não vejo nada que deponha contra ele. Até fico surpreso com sua vitalidade. Tem 83 anos e subiu as escadas do avião aqui, no Brasil, com tranquilidade. Neste drama relacionado com a pedofilia tem mostrado uma resistência moral admirável.
FRANCISCO DE ASSIS
Evidentemente continua sendo um ícone sem paralelo. Admirado em todos os setores da sociedade, em todas as culturas. Então, continua sendo alguém que atrai muito. Por quê? Simples. É o homem do Evangelho, da Boa Notícia, da esperança, do amor a Deus, do amor ao próximo. Então, continua sendo um santo que nunca será esquecido. Por isso, foi considerado o homem do milênio passado e, certamente, continuará sendo para o presente. Os verdadeiros heróis nunca desaparecem.
LULA
Surpreendeu sob muitos pontos de vista. Indiscutivelmente ele é inteligente e tenho para mim que essa história de não ter feito universidade é uma grande piada, porque a Universidade do PT ficava em Cajamar, nas proximidades de São Paulo. Lá as lideranças petistas recebiam instruções dos melhores sociólogos, como Fernando Henrique, dos melhores economistas, como Delfim Neto, e de tantos outros ícones da ciência. E o Lula foi um fiel discípulo. Ele não quer títulos. Tem talento e, sobretudo, o dom da palavra. Tem carisma, indiscutível. Você pode discutir as suas opções. Apresenta posições, composições e negociações que para muitos são inaceitáveis. Agora, que ele tem habilidades que não se desvenda na sua candidata à sucessão, a gente não pode negar.
OBAMA
Está enfrentando muitas dificuldades. É que também se colocou nas costas dele um peso demais. Foi muita responsabilidade! O mundo inteiro ficou esperando milagres. Não é por aí. Acho que ele está conseguindo dar passos importantes. Criando novo clima, que não é belicista. Por exemplo, em termos de remanejamento da economia, teve bastante coragem de enfrentar os grupos econômicos. Acho que não é o ídolo que nós imaginávamos, mas está sendo um bom presidente e uma figura que ainda tem muito a oferecer pela frente. É jovem para a função que tem.
EDIR MACEDO
Eu só lamento não ter um pouquinho da habilidade dele para recolher dinheiro. Nisso ele é um mestre. Sem dúvida nenhuma, tem o dom da palavra. O dom da comunicação, mais do que a palavra. É o que a gente pode dizer. Mas não é preciso ser muito perspicaz para perceber que sua teologia da prosperidade nada tem a ver com o Evangelho, e que é um manipulador que formou muitos discípulos na mesma linha!
TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
Deixou marcas indiscutíveis. Ganhos do ponto de vista teológico, pastoral, eclesial. Agora, é preciso que a Teologia da Libertação renove a sua própria maneira de, não só verbalizar, mas também entender a complexidade das questões sociais. Houve uma certa simploriedade: "Todo pobre é bom!". Não é verdade. "Todo o rico é ruim!". Não é verdade. Então, está na hora de superar certas simplificações, certos clichês. Reconhecer méritos, sim; que obteve conquistas, sim, mas a era dos clichês passou.
MODERNO
É muito relativo. O que é moderno hoje, amanhã não vai mais ser. O mundo é tão rápido que, na prática, é um grande equívoco achar que hoje se é moderno. Por exemplo: em 1500, no período do Concílio de Trento, tivemos a época das grandes descobertas, com tudo o que isso significa em termos de transformações profundas em todos os campos. Os grandes artistas, a Capela Sistina, etc. Traduzindo, o que é moderno? Abrir novos caminhos. O mundo está sempre se renovando. Moderno é uma palavra que não diz muito para mim.
ATRASADO
Atrasado em quê? Em relação a alguma coisa. O atraso está sempre em relação. Por exemplo: em relação ao avião, o carro anda devagar; em relação a um foguete espacial, o avião anda devagar.
IMORAL
Imoral é sinônimo de inautenticidade, de incoerência, de dominação e exploração dos outros..... Isso é pecado, isso é imoralidade. Quando se diminui o outro, se configura uma imoralidade.
VIDA
Não tem definição. É o grande mistério. Por quê? Porque se desdobra numa infinidade de manifestações. No fundo, Deus é a vida. Por isso Cristo diz: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida". E de fato, a minhoca tem vida. Não só ela, mas você vê as bactérias, lá no fundo do oceano, uma infinidade de microorganismos, que também são seres vivos. É a multiplicidade de manifestações da grandeza e da bondade amorosa do Deus Criador. No fundo, a vida é isso.
MORTE
É de fato, uma passagem. Você passa por uma porta. Você sai de um mundo cheio de contradições, passa para uma sala totalmente iluminada, onde você não sabe como é que vai ser, e o que vai encontrar. Vai haver muitas surpresas, por exemplo, no que se refere à questão do bem e do mal, dos bons e dos maus. Basta pensar no capítulo 25 de São Mateus. (...) Acho que bem e mal são categorias muito humanas. Uma coisa é certa: no após a morte você só vai ter luz, e até mesmo o que seriam sombras só servirão para ressaltar a luz. Estou muito curioso como vai ser o Grande Encontro....
BIOTECNOLOGIA
Grandes avanços na biogenética, isto é, nos conhecimentos. Grandes avanços na biotecnologia, no sentido de melhorar a condição de muitos produtos. Por exemplo, aquela abóbora com as cores do Brasil. É apenas um pequeno exemplo. A Embrapa e outras empresas de biotecnologia deram grandes contribuições para a agricultura, para a medicina. No que se refere aos transgênicos, não estou convencido dos seus benefícios. Ninguém sabe como vão agir em termos de ecologia e de saúde. Mas enriquecimento genético é outra coisa. Imagine se você tivesse todos os alimentos necessários concentrados em poucos produtos... que beleza. Enriquecimento genético é algo que deve ser saudado como progresso.
PEDOFILIA
É uma grande praga. E os escândalos da Igreja foram permitidos por Deus como um sinal dos tempos para a humanidade acordar. São milhões de crianças molestadas. E, agora está confirmado: 90% dos casos acontecem dentro de casa. É o pai, o padrasto, o tio, a mãe, o empregado... É alguém próximo da família. E uma coisa para mim ficou muito clara. O padre não se torna pedófilo, o médico não se torna pedófilo, o professor de ginástica não se torna pedófilo. Eles são pedófilos que buscam profissões que lhes dão uma máscara para acobertar a sua perversidade. Não tem outro qualificativo: é perversidade mesmo. E não é só o ato sexual. A questão da pedofilia ficou muito centrada no sexo, mas ela é bem mais abrangente, na linha de carícias e outras atitudes pelas quais o adulto explora a criança. No tocante aos sacerdotes pedófilos: certamente alguns já foram e outros serão punidos severamente. Claro que a Igreja não está sedenta de sangue. Primeiro faz um processo. Uma vez confirmado o crime e o pecado, pune. Mas, não pune como vingança, mas na esperança de que o pedófilo reconstrua sua vida e sua afetividade. Tanto a vítima da pedofilia, quanto o próprio pedófilo exigem cuidados especiais...
HOMOSSEXUALISMO
Os "ismos" são sempre negativos. Eu distingo a pessoa do homossexual. Homossexual é adjetivo; heterossexual é adjetivo. Agora, pessoa é substantivo. Você encontra pessoas homossexuais excelentes e pessoas homossexuais perversas. Como você encontra pessoas heterossexuais excelentes e pessoais heterossexuais perversas. Dizer que alguém é "homossexual" não me diz muito. Tudo depende de como essa pessoa administra sua sexualidade e sua afetividade. E, sobretudo, gostaria de acentuar melhor: a questão homossexual encontra-se no nível da afetividade. Não é questão nem genética, nem biológica. Não é que todo homossexual viva praticando sexo. Trata-se mais de um apego afetivo a uma pessoa do mesmo sexo. Às vezes, numa linha de dependência; às vezes, numa linha de carinho. Mas isso aí tem muitos níveis. E não dá para colocar todo homossexual no mesmo saco, no mesmo padrão. Cada um é cada um. Você tem muitos tipos de homossexuais e inúmeros tipos heterossexuais. Isso não é classificativo.
FAMÍLIA
Diria o seguinte: na prática, estamos indo para uma decomposição da família. Cada vez mais nos deparamos com um casa, descasa, junta, "desjunta", filho de um, filho de outro. Tem um lado negativo, sem dúvida. A criança é jogada de um lado para o outro. E cada união e cada separação deixa marcas mais ou menos profundas. Agora, por outro lado, para Deus, os laços de sangue não são os mais importantes. E aí cabe uma ação pastoral. Não é o caso de enquadrar todo mundo dentro daquele figurino. Mas é acolher o sem-família, acolher os descasados, os "recasados", não para justificar, mas também não para não condenar. É uma pedagogia diferente. Aquela família certinha quase nunca existiu. Por baixo do pano, acontecia muita coisa. Agora, hoje isso vem mais à tona. Que seja importante, não há dúvida. De qualquer forma, partindo da realidade, não adianta simplesmente chorar o leite derramado. Temos que ressaltar a importância ímpar dos laços de fé. As configurações familiares sempre foram diversificadas... Como também as configurações no plano teológico.... Esse é o mundo no qual devemos anunciar um certo ideal e, ao mesmo tempo, ser compreensivos com uma realidade, sempre complexa.
SEXUALIDADE
É uma energia poderosa, mas ambivalente. É como a energia atômica, ambivalente. É como qualquer outro tipo de energia: tudo depende de como é canalizada. Por exemplo, agora, as águas lá de Alagoas, do rio Itajaí, em Santa Catarina. Você não tomou as medidas preventivas... Há muito se chegou à conclusão de que um canal auxiliar para o Rio Itajaí resolveria o problema das enchentes. Mas... nada se faz. A mesma acontece com a sexualidade: é uma energia selvagem. Mas devidamente administrada é uma força vital que move nossa vida no sentido mais amplo da palavra. Claro que sexualidade não se confunde nem com genitalidade, nem com ato sexual, nem com sexo. É uma energia que perpassa toda nossa condição humana e em todas as dimensões. É através da sexualdade que casados e solteiros, celibatários ou não, podem pregustar um pouco do Deus Amor. Precisamos trabalhar com muito mais afinco nossa sexualidade, seja no plano pessoal, seja no plano das comunidades, fraternidades, sociedades.
JOVEM
Não corresponde muito a uma faixa etária. Também não é verdade que juventude significa "ter espírito jovem". Eu diria que a juventude se enquadra numa faixa etária mais elástica, menos elástica. No sentido estrito, a juventude é um período muito curto, como a infância. Longas são as denominadas idade adulta e a terceira idade. Por exemplo, de 60 a 90 anos, são trinta anos de vida. A infância dura no máximo dez anos. A juventude, com muito favor, 5 ou 6 anos. Depois, o jovem assume responsabilidades.
ANOREXIA
Acabei de fazer um programa na televisão sobre o tema. É fruto da ditadura da beleza, que foi tipificada e é muito relativa. As mulheres dos meus irmãos – todos já morreram - eram bonitas, mas fortes, gordinhas até. Isso aqui é uma aberração criada pela mídia. Agora, é uma doença terrível, que tem que ser tratada rapidamente, assim que se descobre. Além da anorexia, neste programa, um psiquiatra apontou outras duas doenças graves ligadas a ela: a drunkorexia (anorexia alcoólica) e a bulimia. Atrás disso tudo se esconde o desejo pelo suicídio.
DROGAS
Drogas e sexo são um grande comércio. Movimentaram a máfia na Itália e movimentam grande parte de nossa economia. Não só nas favelas, não. Na realidade, os produtores e distribuidores, são agenciados por grandes negociadores da droga. Ou seja, um comércio tremendo e imoral. O segundo fator a ser considerado é a falta de sentido de vida. Faltam perspectivas de vida. O que você vai fazer da sua vida? Não tem uma profissão definida, não tem possibilidade de desenvolver os talentos. Hoje, tem um fator mais sério que facilmente arrasta para a droga: os criminosos estão colocando as crianças na ponta do crime. Isso obriga a repensar no que se refere à interpretação do Estatuto do Menor e do Adolescente. A idéia foi boa. Mas não a interpretação que vem sendo dada.